quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Avenida Calouste Gulbenkian

O meu pai esteve longos meses internado no hospital da Universidade de Coimbra ,ia-o ver duas vezes por dia ,no espaço entre visitas ia até ao shopping Mayflower na Avenida Calouste Gulbenkian, tomava um café na esplanada e ficava a observar um samoiedo que ia pedinchar os cones de bolacha enquanto o dono tomava um café,ficava apoiado nas patas de trás e ladrava até lhe darem dois cones ,a Zé vivia num daqueles prédios ,uma vez emprestou-me um blusão de ganga numa noite gelada em que vi os fantásticos quadros dela ,tinha uns olhos de um verde impossível ,mais tarde soube que se atirou da varanda ,tinha-me telefonado dias antes para ver se eu ia beber um café com ela mas nesse dia não pude,gostava de ter podido ou sabido ou de conseguir prever o futuro ,nesta terça estive lá e lembrei-me de tudo ,da Zé ,e do cão ,e da Renault 4L igual á do trafic do Tati,e do epagneul breton do instrutor do ginásio ,e das t shirts do Bart Simpson,e do Jorge Carvalho que chegava no descapotável vermelho ao hóspital com ar alheado de homem livre,e dos dois maços fumados seguidos num dia de neura ,e do after eight que comia á noite,e do café Sing sing ,e do isqueiro ,e do autocarro ,e dos dias gelados como o desta semana.

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